segunda-feira, 23 de maio de 2011

Amanda Gurgel - debate sobre educação

A partir do dia 10 de maio de 2011, o Brasil teve conhecimento de um discurso da professora Amanda Gurgel, por meio de um vídeo que circula no youtube, mostrando sua intervenção num debate sobre educação no Rio Grande do Norte. Em seu discurso, a professora rebateu as colocações da senhora, Betânia Ramalho, Secretária do Estado da Educação e desafiou os componentes da mesa da qual faziam parte, além da Secretária, deputados e integrantes da promotoria pública do Estado.

Esse discurso acabou saindo da esfera estadual, transformando-se num campeão de acesso por todo o Brasil. A repercussão foi tamanha que a Rede Globo de televisão, no horário do programa do apresentador Fausto Silva (22/05), entrevistou a professora Amanda, alternando, durante 15 minutos, trechos e imagens do vídeo, com questões formuladas ao vivo e exibidas em tempo real.

Sem dúvida, esse episódio protagonizado pela professora do nordeste do Brasil, mexe com todo o país, num momento em que muito se discute a qualidade do ensino brasileiro. É o ponto de vista de alguém que vive o dia a dia da educação, que padece com os problemas e que sofre as angústias de não ser ouvido pelas autoridades que pensam o sistema de ensino e elaboram as leis educacionais.

Refletindo sobre a fala da professora norte-rio-grandense, pude recuperar, nos arquivos da memória, a escola pública de outrora por onde passaram importantes personalidades e autoridades que ajudaram a construir a história do país. Não era uma escola para todos, era excludente, mas segundo a maioria daqueles que a conheceram e que nela estudaram era de qualidade. Logo, o sonho de todas as famílias era conseguir a permanência dos filhos nessa escola, uma tarefa difícil, já que as vagas eram disputadíssimas em todas as etapas do ensino.

Lógico que essa escola elitista não era a ideal, pois deixava fora os descendentes das camadas populares que acabavam ficando sem oportunidades de estudarem. O fato de ser excludente é fator por demais negativo, mas a parte isso, os professores eram valorizados, respeitados, as escolas eram bem construídas, prazerosas, enfim, motivo de orgulho para todos que nela militavam, quer estudando ou trabalhando.

Hoje, do ponto de vista do acesso à educação, a escola pública avançou muito. Todavia, à proporção que evoluiu rumo à universalização do ensino, precarizou sua rede física, sua infraestrura e desvalorizou o professor que, para sobreviver, precisa submeter-se a uma sobrecarga de trabalho que o massacra anos a fio.

Conforme disse Amanda Gurgel, o professor multiplica seus R$930,00 por três, triplicando sua jornada de trabalho, o que tira as condições de o professor exercer um trabalho de qualidade, já que fica sem tempo de preparar uma boa aula que contemple as diferentes realidades dos alunos em sala. Um professor com 16, 18 ou 20 aulas, por semana, em cada turno, uma média de 15 turmas de 35 alunos cada, num total de 525 alunos, não tem tempo disponível para mais nada. Qualquer outra atividade como corrigir provas, trabalhos, lançar notas de alunos no diário tem que ser realizada nos feriados e finais de semana, sacrificando assim seu convívio social e familiar. Realmente, um trabalho extenuante que explica o adoecimento de tantos educadores.

A gente bem que poderia resolver esse problema, dando melhores condições de trabalho ao professor de exercer o seu ofício. Em vez de sufocá-lo com uma jornada excessiva, seria mais prudente triplicar os R$930,00 exibidos no contracheque de Amanda, por uma jornada de 35 horas semanais, sendo 40% desta destinada a estudos, preparação de aulas, correção de provas, de trabalhos, elaboração de relatórios e preenchimento de diários de classe. Desse modo, daríamos um grande salto rumo à melhoria da qualidade do ensino em nosso país.

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