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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Diversidade linguística

A diversidade linguística sempre foi uma realidade na vida dos povos. A história nos mostra que os usuários da língua convivem simultaneamente com o registro formal, também chamado de língua padrão, e o informal, utilizado de forma livre e espontânea. Assim, um mesmo sujeito que utiliza livremente a linguagem, sem preocupação com regras preestabelecidas, precisa, em certos momentos, empregar corretamente a norma culta, segundo as necessidades de comunicação, em situações determinadas ou específicas. Não se trata de línguas diferentes, mas de variantes de um mesmo idioma.

Os estudos da filologia românica sinalizam que por volta do século XX a.C. havia traços comuns na comunicação verbal, utilizada pelos povos que se achavam espalhados pela Europa e Ásia Ocidental. Tal revelação sugeria certa unidade comunicativa a qual se convencionou chamar indo-europeu. Esse tronco linguístico reunia “falares” como Itálico, Germânico, Eslavo, Báltico e Céltico, dentre outros. Com o tempo, eles sofriam ramificações, a exemplo do itálico que evoluiu, dando origem a vários dialetos dentre os quais o latim.

O latim se apresentava sob dois aspectos, o clássico e o vulgar. O primeiro era o latim dos eruditos, instrumento de comunicação dos juízes, padres, tabeliães e poetas. Ele era regido por regras que primavam pela erudição do vocabulário, pela correção gramatical e elegância de estilo. O segundo, o latim vulgar, era a língua cotidiana, popular, praticada pela maioria da população da qual faziam parte as chamadas classes menos instruídas da sociedade.

De uso espontâneo, o latim vulgar não era escrito intencionalmente. Todo e qualquer registro com finalidades diversas deveria ser feito em latim clássico, aquele dos intelectuais e letrados em geral. Em latim vulgar, tivemos poucas inscrições, porém de grande importância, pois foram fundamentais para os trabalhos de investigação e pesquisa, já que nelas se achava enraizada a variante linguística popular, praticada livremente pela maioria das pessoas das regiões onde se falava latim.

Como não havia uniformidade devido ao uso espontâneo, o latim vulgar sofria acentuadas variações. Em cada região, ele se desenvolvia e se transformava, segundo as influências próprias do lugar. Foi a partir dessa evolução que surgiram as línguas românicas (neolatinas). Havia um acentuado distanciamento entre latim clássico e vulgar. Enquanto, de um lado, os escritos obedeciam ao rigor formal, de outro, as pessoas usavam, naturalmente, as formas não preconizadas pelos eruditos. Isso somado à invasão bárbara que arrasou o império romano abriu significativas lacunas ao aparecimento de outros dialetos como instrumentos de fala.

Ao estágio intermediário que se verificou da passagem do latim a uma língua românica, deu-se o nome de romanço ou romance. Essa fase de transição durou anos, décadas e séculos, pois embora as pessoas usassem os dialetos, o latim clássico continuava sendo obrigatório, imposto pelas elites sociais. Somente depois que um dialeto alcançava prestigio, sobrepujando outro em determinada região, consolidava-se como língua.

As línguas neolatinas ou românicas são aquelas que apresentam traços no vocabulário, na morfologia e na sintaxe, apontando para a mesma origem, ou seja, o latim. Assim, temos o português (falado em Portugal, Brasil, Ásia, África e Oceania); o espanhol (falado na Espanha, América Central e América do Sul – com exceção do Brasil); o catalão (falado na Catalunha, nos vales de Andorra, na Zona Oriental de Aragão, na maior parte da Valência, nas ilhas Baleares e na cidade de Alguer, situada na costa noroeste da Sardenha); o francês (falado na França, Bélgica, no antigo Congo Belga, em parte da Suíça, do Canadá e no Haiti); o provençal (falado no sul da França, atualmente absorvido pelo francês, apesar do grande prestígio que gozou na poesia trovadoresca dos séculos XII e XIII); o italiano (falado na Itália, na Sicília, na Córsega e em São Marinho); o rético (falado no Tirol, no Friul e no Cantão dos Grisões na Suíça); o dalmático (antes falado na Dalmácia, hoje língua morta); o romeno ou valáquio (falado na Romênia e na parte da Macedônia, próximo ao Monte Olimpo); e o sardo (falado na Sardenha).

Segundo Leite de Vasconcelos, a história da língua portuguesa pode ser dividida em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica. A fase pré-histórica caracteriza-se pelo aparecimento dos primeiros documentos latino-portugueses, que se deu das origens da língua até o século IX. Enquanto nessa fase houve uma pequena quantidade de documentos, na fase proto-histórica, que vai do século IX ao XII, o número de documentos foi bem maior, aparecendo, de quando em quando, palavras portuguesas, o que sugere a existência do galaico-português. Do século XII ao XVI, já na fase histórica, surgem textos e documentos redigidos em português arcaico; e, em português moderno, do século XVI em diante.

Não é possível precisar o tempo em que o português surgiu como língua oficial. O período de transição se deu durante anos, décadas e séculos, com a coexistência de diversos falares até ele se consumar como língua. Semelhantemente ao que ocorria com o latim clássico e vulgar, hoje convivemos com a língua culta e outros registros que são praticados cotidianamente. De um lado, temos a língua portuguesa padrão, regida por regras que devem ser seguidas; de outro, os falares cotidianos, usados espontaneamente em momentos informais. Como o latim vulgar, a língua cotidiana, por ser livre e dinâmica, vai evoluindo, dando origem a outros dialetos enquanto a língua culta é praticada em eventos acadêmicos, redação de documentos oficiais, telejornais, artigos científicos, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e outros. O segredo então é cada usuário da língua aprimorar o domínio sobre essa temática, pois assim serão maiores as chances de sucesso na adequação linguística às diversas realidades comunicativas.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Elementos da comunicação e Funções da linguagem

Relação entre Elementos da
comunicação e funções da linguagem


Contexto
Função referencial
Mensagem
Remetente / função poética / Destinatário
Emissor                            Receptor
Função emotiva <---> Função conativa
Contato
Função fática
Código
Função metalinguística

....................................... ....................................


Legenda:

Elementos da comunicação
Funções da linguagem 
                 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Nova ortografia

O senado brasileiro aprovou em novembro de 2009, o acordo ortográ­fico, re­sultado de uma articulação política entre os países de língua portu­guesa. Esse acordo alterou a escrita de 0,43% das palavras, no Brasil, e 1,42% das pala­vras, em Portugal. Para os brasileiros, as mudanças se referem ao acréscimo das consoantes “k, w e y” ao alfabeto português, à extinção do trema, à acen­tuação gráfica e ao em­prego do hífen.

Vejamos o que prevalece:

Situação
Exemplos
1
Incorporação de k, w e y ao alfa­beto, passando a ter 26 letras.
Km, watt, Byron, kg.
2
Extinção do trema, ficando em no­mes estrangeiros e derivados.
frequentemente, aguentar, tran­quili­dade, quinquênio, pinguim.
Müller, mülleriano; Hübner, hübneriano.

3
Sem acento, os ditongos abertos “ei” e “oi” em palavras pa­roxíto­nas. Nas oxítonas, ele continua.
ideia, assembleia, heroico, ono­mato­peia, paranoia, jiboia.
herói, constrói, anéis, papéis réu e dói.

4
Sem acento, agudo, o “i” e “u” tô­nicos, precedidos de ditongo de­cres­cente, nas paroxítonas. Nos ditongos crescentes, continua.
feiume, feiura, baiuca (lugar popular de festejos ou de encontro com amigos), bocaiuva (espécie de palmeiras).       Guaíba, Guaíra.

5
Sem acento, o “u” tônico depois de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” das formas verbais rizotônicas.
averigue, apazigue, ar­guem, em vez de:

“averi­gúe”, apazigúe e argúem.
6
Sem acento, a primeira vo­gal dos hiatos “oo” e “ee”.
voo, enjoo, abençoo, creem, leem, veem, deem.
7
Acento diferencial em

pôr” (verbo), por (prep.); “pôde” (verbo), “pode” (tempo presente).
É opcional em “fô­rma” / “forma”.

8
Sem hífen, as palavras for­madas por prefixos terminados em vogal mais palavra iniciada por “r” ou “s”. Nesse caso, dobra-se a con­soante.
autoescola, antiaéreo, supersônico, aeroespacial, antesse­mita, antissocial, antesala, antirrá­bica, ultrarromântico, autorregula­mentação, extrarre­gimento, autossufi­ciente.

9
Sem hífen, os compostos de base oracional e os demais, que apre­sentam elementos de ligação.     Exceções: água-de-colônia, arco-da-ve­lha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia.
Maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz, deus me livre, faz de conta; pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra.
10
Sem hífen, os prefixos “pre” e “re”, mesmo elidindo com e.
preexistente, reescrever, reedi­ção, reestabelecer.
11
Sem hífen, as palavras formadas com não e quase.
(acordo de) não agressão;
(isto é um) quase delito.
12

Com hífen, as pala­vras em que o primeiro elemento termina com “r” e o segundo inicia também com “r”.
“hiper-realista”, “hiper-requin­tado”, “hi­per- requisi­tado”, “inter-racial”, “inter-regional”, “inter-rela­ção”, “super-racio­nal’, ‘super- rea­lista”.


13
Com hífen, as palavras que se iniciam com a vogal final do pre­fixo, ou o primeiro elemento ter­mina com vogal e o segundo co­meça com “h”.
“micro-ônibus”, “micro-orga­nismo”, “anti-inflamatório”, “anti-imperi­alista”, “arqui-inimigo”, “mi­cro-ondas”, “anti-herói”, “anti-higi­ênico”, “extra-hu­mano”, “semi-herbáceo”, pré-elaborar.

14
Com hífen, os prefixos “sub” e “sob” e com os prefixos “pan” e “circum”, seguido de “m”, “n”, “h”, ou vogal
pan-americano, pan-helenismo, cir­cum-navegação, pan-hispâ­nico, sub-região, sub-reitor, sob-roda.

15
Com hífen, os prefixos “pós”, “pré”, “pró”, “recém”, “sem”, “além”, “aquém” e vice.
pós-graduado, pró-reitor, vice-rei,   pré-datado, pré-escolar, além-mar, pós-doutor, pós-cirúrgico, ex-presi­dente, recém-casado, sem-terra.

16
Com hífen, as palavras compostas que nomeiam espécies animais, ou botânicas.
Fora do sentido original, sem hífen.
bem-te-vi, peixe-espada, mico-leão-dourado, lebre-da-patagônia, erva-doce, pimenta-do-reino, pe­roba-do-campo, cravo-da-índia.                      
“bico de papagaio” (doença), “olho de boi” (selo postal)

17
Com hífen, as palavras compostas que não apresentam elementos de ligação.
guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, se­gunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro.

18
Com hífen, os nomes compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação.
reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, pingue-pongue, zi­gue-zague, esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.

19
Com hífen, as palavras com abob e ad, mais palavra começada por bd ou r.
ad-digital, ad-renal,
ob-rogar, ab-rogar.

20
Com hífen, as palavras com mal, mais palavra iniciado por vo­gal, h ou l, usa-se hífen.
Mal, doença, sem hífen.
mal-entendido, mal-estar,
mal-humorado, mal-limpo, mal-lavado.

Mal de Lázaro, mal de sete dias.

21
Com hífen, as pala­vras que ocasi­onalmente se com­binam, indi­cando itinerário.
ponte Rio-Niterói.
eixo Rio-São Paulo.

estrada Belém-Brasília.

22
Com hífen, os sufixos de origem tupi-guarani, formas adjetivas, como açu, guaçu, mirim.
capim-açu; amoré-guaçu
anajá-mirim; Guajará-mirim

Como se vê, as mudanças na grafia de 0,43% das palavras no Brasil não simplificaram nem reduziram as regras orto­gráficas da língua portuguesa. Elas servi­ram para unificar a escrita do único idioma do ocidente que apresen­tava duas grafias oficiais, a do Brasil e a de Portugal. Desse modo, cerca de 250 milhões de falantes da língua portuguesa, espalha­dos pelas terras de Bra­sil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo­çambi­que, São Tomé e Príncipe e Timor Leste passaram a empregar as mes­mas regras, o que facilita a circulação de documentos oficiais e de livros en­tre esses países, sem a ne­cessidade de um trabalho de tradução.

Ademais, com essas alterações, a língua portuguesa se fortalece, pois, como está escrito no texto oficial do acordo, "ele constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional". Portanto mesmo não trazendo uma simplificação ortográfica, como nação e comunidade linguística, o Brasil tem muito a ganhar com essas mudanças.

Regras ortográficas


            Quando falamos em ortografia, estamos tratando do conjunto de convenções estabelecidas para a escrita correta das palavras da língua. Diversas são as razões que levam uma comunidade linguística a fazerem os acordos para definir as regras ortográficas. Algumas convenções baseiam-se em critérios etimológicos (relacionados à origem das palavras), outras, em critérios fonológicos (ligados aos fonemas ou sons da língua).

Vejamos os casos seguintes:

(Emprego de S, SS, SC, Ç, Z, X, CH, E, I)

Letra
Regra: emprega-se
Exemplo

H
por razões etimológicas ou tradição escrita.
homem, higiene, honra.
no final de algumas interjeições.
oh! ah!
quando o segundo elemento com h se une ao primeiro por hífen.
super-homem, pré-história, sobre-humano, sub-humano.
quando faz parte de dígrafos.
chuva, chave, chácara.

S
nos sufixos -ês, -esa, e -isa.
chinês, chinesa, poetisa.
nos sufixos -oso, osa.
gostoso, gostosa.
nos ditongos.
coisa, maisena, Neusa.
nos verbos pôr e querer e seus compostos.
quiser, puser, quis, quisesse, quisemos, pusesse.
em derivados de palavras com S.
pesquisa, análise, analisar, pesquisado.

Z
nos sufixos -ez e –eza.
rigidez, riqueza, beleza.
nas derivadas de outras com Z.
cruz, cruzeiro, cruzada, 
desliz, deslizar, deslizante.
nos sufixos -izar.
civilizar, eternizar.

SS

nos derivados de verbos grafados com “gre­dir”, “mitir”, “ceder” e “curtir”, exceto em ex­ceção.
progredir = progresso, regre­dir = regresso, ceder = ces­são, concessão, retrocesso, transmissão, permissão.
SC
nos termos eruditos.
acréscimo, ascensorista, miscigenação, rescisão.
E
com o sufixo -oar e –uar e prefixo “ante” (po­sição anterior)..
perdoar = perdoe, continuar = continue, antepas­sado.
I
com o sufixo -air, -oer e –uir e prefixo anti (posição contrária).
atrair = atrai; doer = dói; possuir = possui; antiespor­tivo, antissocial.

X
depois de ditongo e “en”, exceto encher, en­chumaçar e seus derivados.
caixa, peixe, trouxa, enxur­rada, enxaqueca, enxada.
depois de “me”, exceto em mecha e seus derivados.
mexer, mexilhão, mexerica, mexeriqueiro.
em palavras de origem africana.
xavante, xangô.
G
nas terminações -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio, -agem, -igem, -ugem.
prestígio, refúgio, garagem, ferrugem.
J
nas palavras indígenas e africanas e nas derivadas de outras com “J”..
pajé, canjica, jirau, jiló, Ubi­rajara, acarajé, jiboia, jeni­papo, nojento, cerejeira.
C
nos verbos terminados em -ecer.
amanhecer, entardecer.
Ç
nos derivados de verbos grafados com “ter” e “torcer”.
detenção, contenção, aten­ção, torção.
XC e XS
nos dígrafos que soam como SS.
Exceção, excedente, excên­trico, excepcional, exsudar.