sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Escola, uma abordagem polêmica

Alguns problemas existenciais envolvendo nossos jovens, adolescentes e crianças trazem sérias dificuldades às famílias, à sociedade e aos educadores, dentro e fora das salas de aula.

Uma abordagem menos profunda pode-nos levar a relacionar a conduta dos alunos ao perfil sócio-econômico, todavia se avançarmos nessa reflexão, vamos constatar que nem sempre as evidências são coerentes com o que julgamos ser verdade.

Alguns educadores atribuem a origem de tais problemas à realidade financeira do aluno e à falta de apoio familiar que, no fundo, decorrem da mesma razão, ou seja: necessidade de os pais se ausentarem do lar para a labuta profissional, ou para o enfrentamento das barreiras do subemprego, em busca de sobrevivência.

Se fosse verdade que os problemas conduta estudantil decorressem das dificuldades financeiras, os alunos ricos não passariam por nenhuma crise existencial. No entanto, mesmo sendo alicerçados em famílias, do ponto de vista social e econômico, bem posicionadas, eles também padecem insatisfação e tristeza.

É verdade que os alunos pobres sofrem com a exclusão, com a falta de oportunidades, de assistência médica, de moradia decente, deficiência alimentar e com a falta de recursos financeiros para realizar a utopia de seus desejos de consumo. Enfim, esses alunos não têm as condições satisfatórias para praticarem a educação com gosto e qualidade.

Essa não é a realidade dos alunos da elite privilegiada. Estes não precisam ajudar financeiramente suas famílias, com recursos advindos de atividades trabalhistas autônomas, ou até mesmo do subemprego. Ao contrário disso, eles fazem cursos extracurriculares, estudam em escolas privadas, com invejável infraestrutura, podem pagar professores particulares, para aulas de reforço, tendo, pois, acesso a mais informações, o que aumenta muito o leque de oportunidades que a vida lhes oferece.

A ansiedade em relação ao futuro, o medo do fracasso escolar e as cobranças da sociedade parecem angustiar muito os alunos com alto poder aquisitivo. Por terem plenas condições de sobrevivência, de acesso a uma boa educação, à cultura, a um bom plano de saúde, a viagens e a diversas formas de lazer, eles se sentem pressionados a alcançarem um bom desempenho em tudo que fazem. Nos estudos, então, precisam ser bem sucedidos, conquistando sempre resultados cada vez melhores.

Já os alunos das camadas populares não sofrem tanto com os insucessos. Talvez por vivenciarem, desde pequenos, as inúmeras dificuldades de seus familiares, eles enfrentam, com mais tranqüilidade, as desventuras, os insucessos. Desse modo, não se mostram muito preocupados com os estudos, com as notas perdidas, com as reprovações, sendo tudo compensado pela alegria e o prazer da convivência no ambiente escolar.

A escola, para os alunos pobres, está além de um espaço educativo, é um ambiente de encontro, de lazer, de convivência social e de outras formas de relacionamentos. Isso nos ajuda a entender porque muitos deles, ou a maioria, amam verdadeiramente suas escolas, mas não gostam de estudar. Já, para os alunos ricos, que desfrutam de outros ambientes para o lazer e as diferentes possibilidades de relacionamentos, a escola representa um espaço educativo, por excelência, para atender às cobranças familiares e sociais. Tais cobranças, às vezes, são tão exageradas que causam sofrimento, angústia e infelicidade.

Diante dessa constatação, cabe às famílias, à sociedade e às instituições de ensino repensarem suas ações educativas para que a escola seja, ao mesmo tempo, um lugar de aprendizagem e aprazível para os alunos. Talvez seja importante conciliar o gosto que os alunos das camadas populares têm pela escola, como espaço de convivência, e a busca da chamada “excelência educativa” praticada pelos alunos das famílias detentoras de maior poder econômico. Esse contraponto pode ser um caminho possível para avançarmos na construção de uma alternativa pedagógica suficiente, viável e prazerosa.

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