Cada vez que sai o resultado dos alunos nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, ficamos entristecidos diante da diferença da qualidade do ensino oferecido pelas escolas públicas em comparação com as escolas particulares.
Em 2010, poucas escolas públicas figuram na lista das 100 melhores do Enem, o que nos traz descontentamento, pois, uma vez mais, constatamos que os alunos das camadas populares estão em desvantagem em relação aos demais das classes privilegiadas, espalhadas por esse país.
As escolas públicas que aparecem entre as 100 melhores do Enem 2010, não se enquadram no modelo comum das escolas municipais e estaduais, cuja forma de organização, regime de trabalho não propiciam ao educador condições de realizar um trabalho como deveria. E essa deficiência ficou espelhada no resultado do Enem 2010, divulgado pelo Inep, no dia 12/09/2011. Foi a constatação daquilo que todos sabíamos, mas que muitas de nossas autoridades não querem reconhecer.
O melhor desempenho de alunos da rede pública está nas escolas vinculadas às universidades federais, nos colégios militares e nos institutos federais de educação, que oferecem o ensino médio na forma integrada à educação profissional.
Nas escolas ligadas às universidades públicas, como é o caso do colégio de aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na oitava posição entre os melhores de 2010, os educadores trabalham em regime de dedicação exclusiva, tendo um tempo considerável para as atividades extraclasse, a exemplo do que ocorre na universidade a que ele se vincula. De igual modo, os institutos federais de educação e os colégios militares também diferem da escola pública comum pelo seu regime de trabalho, plano de carreira e remuneração salarial.
Uma coisa que sufoca os educadores da escola pública comum é o fato de eles não terem dedicação exclusiva. São professores que recebem entre oito e quinze reais por hora aula, o que os obriga a uma sobrecarga de trabalho para sobreviverem. Enquanto os educadores das escolas públicas ligadas às universidades, os dos institutos federais de educação e dos colégios militares dispõem de tempo para as atividades de pesquisa, preparação de aulas, correção de trabalhos e de provas, recebendo um piso salarial três ou quatro vezes maior ao do professor da rede estadual e municipal, este precisa ministrar no mínimo quarenta aulas por semana para garantir sua sobrevivência.
Sem levar em consideração outros fatores como a disciplina militar e os processos seletivos que recrutam para aquelas escolas alunos mais bem preparados, sem dúvida, o excesso de trabalho do professor da rede pública comum, sua baixa remuneração, falta de infraestrutura e de segurança são responsáveis pelo fraco desempenho de seus alunos no Enem 2010. Esse deve ser o ponto de partida para repensarmos a nossa educação pública, sem hipocrisia, e demonstrando o mínimo de respeito pelas famílias e pelos alunos das camadas populares que tanto anseiam por uma educação realmente de qualidade.
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