Os
últimos acontecimentos envolvendo a relação de Carlinhos Cachoeira e o senador
goiano Demóstenes Torres (ex-DEM) nos revelam a grande dificuldade que é acabar
com a impunidade no país, já que ela se enraíza em diferentes direções da vida
pública brasileira.
Enfim,
depois de algumas dificuldades e muitas dúvidas, a CPI foi instalada para
apurar esse escândalo que uma vez mais denigre a imagem da nossa amada pátria. Vejamos
agora se as investigações não tomem um rumo diferente daquele que esperamos,
pois no Congresso Nacional e na política brasileira prevalece o corporativismo e
os interesses pessoais em detrimento da seriedade e lisura dos processos
investigativos.
Basta lembrar
que, antes, tanto na Câmara dos deputados quanto no Senado, todos os
parlamentares apoiavam a instalação da CPI, mas os últimos fatos mostraram que
o problema é mais sério do que se imagina. A ligação do contraventor Carlinhos Cachoeira
com o senador Demóstes Torres parece ser apenas um sintoma desse terrível mal
que tem outras causas e efeitos, envolvendo também outras pessoas, instituições
e empresas prestadoras de serviços aos entes federados.
Hoje, o
que nos parece é que a instalação da CPI tinha como objetivo principal apostas pessoais
tanto da oposição quanto de governistas, cada qual vendo nesta a oportunidade
de provocar maior desgaste no outro. A questão da transparência, da seriedade e
da honestidade aprece em segundo plano.
De
início, apesar de o denunciado ser da oposição, seus aliados e correligionários
viam a possibilidade de apunhalar o governo, uma vez que, querendo ou não, toda
CPI dessa natureza, acaba provocando inúmeras feridas. Por outro lado, parte de
parlamentares governistas estava com a faca e o queijo nas mãos para
desmascarar a imagem daqueles que tentam desqualificar as ações do governo sob
qualquer pretexto. Ou seja: para a base governista, as investigações poderiam
evoluir de Demóstenes Torres, hoje sem partido, até o governador de Goiás,
Marconi Perilo, eleito pelo PSDB. Por sua vez, a oposição apostava no desgaste
do governo com a CPI, por causa das evidências de que a máfia de Cachoeira
havia alcançado a administração de Agnelo Queiroz, no Distrito Federal, além de
outras possíveis ligações com alguns parlamentares petistas e com A Delta,
principal prestadora de serviços nas obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC).
Independente
do resultado dos trabalhos da CPI, que terá como relator o deputado petista Odair
Cunha, fica claro que os parlamentares colocam em segundo plano o compromisso
em apurar irregularidades. Cada um quer defender a sua imagem, mesmo que isto
implique o recuo diante de propostas benéficas ao povo brasileiro. E esse
comportamento vai fazendo perpetuar em nosso meio o sentimento de impunidade. Desse
modo, o crime vai se organizando cada vez mais e ganhando força nos aliados do
meio político.
Por
tudo isso, o cidadão comum já perdeu a referência do político honesto, já não
consegue diferenciá-lo do corrupto, do bandido e até do mafioso. Assim, o
conceito de política muda, vira sinônimo de desvio de dinheiro público, de
negociatas sujas, de acordos espúrios, de enriquecimento ilícito, de
esbanjamento, ostentação, suntuosidade e improbridade. Lamentável, mas é assim
que no meio político as coisas funcionam.
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