No final do movimento pelas Diretas-já, que culminou na eleição de Tancredo Neves para Presidência da República, algumas coisas ficaram gravadas nos arquivos da memória de toda uma geração que, nas ruas lutavam pelo fim do regime militar.
Heroicamente, os primeiros passos aconteceram. Mesmo não sendo as mudanças que esperávamos, o governo civil foi eleito indiretamente pelos senadores e deputados federais, no Congresso Nacional. Foi o ponto de partida para os avanços democráticos que a sociedade tanto queria.
Após essa primeira conquista, em 15 de janeiro de 1985, veio a segunda, alimentando as esperanças de uma vida verdadeiramente livre. O próprio Tancredo anunciara, num de seus discursos, que o primeiro compromisso de Minas era com a liberdade.
Desde 1989, o Brasil realiza eleições diretas para os cargos legislativos e executivos. Todavia isso não basta para assegurar a democracia no país. Muitas coisas que deveriam ser feitas continuam engavetadas, sem que alguém tome a iniciativa de realizá-las. O país parou, seus processos de redemocratização se resumiram aos pleitos eleitorais.
As grandes idéias estão congeladas por falta de interesse ou vontade política. Muitos reclamam das medidas provisórias do governo, mas onde estão os projetos de lei que beneficiam a sociedade brasileira? Que fazem nossos parlamentares, vereadores, deputados e senadores, em favor de uma vida com justiça que garanta os direitos de cidadania do nosso povo? Certamente, estão pensando em si. Para eles, poder, dinheiro e fama bastam, logo não sobra tempo para pensar no Brasil e nos brasileiros.
Um país verdadeiramente democrático deveria assegurar a liberdade de voto aos seus cidadãos. Mas não. Nenhuma reforma se fez nesse sentido, logo, se não votarmos, seremos punidos, com a perda de direitos humanos fundamentais. É absurdo também constatar que necessitamos de, no mínimo, quatro meses por ano para pagamento de impostos aos entes federados. Além disso, pagamos taxas exorbitantes de água, telefone, energia elétrica, planos de saúde e tantos outros. Não há projeto de lei corrigindo tais distorções, procurando fazer justiça aos assalariados brasileiros. A saúde – nem é preciso dizer – deixa muito a desejar: faltam leitos, médicos, enfermeiros, remédios e até hospitais. Na educação, apesar de alguns avanços localizados, os professores estão sobrecarregados, com excesso de aulas e de alunos; sentem-se desvalorizados, sem motivação, sofrendo diferentes tipos de violência em sala de aula. A segurança pública está precária, tirando a tranqüilidade de todos. Os criminosos estão a cada dia com mais poder e regalias, pois nesse país de politiqueiros, de corruptos e corruptores, democracia e impunidade se confundem.
Enquanto não buscarmos soluções para essas questões, a democracia será apenas um desejo ou um projeto. A vivência democrática vai muito além de um simples processo eleitoral. É hora de pensarmos nisso, escolhendo políticos comprometidos com as necessidades da maioria do povo brasileiro. Quem já ocupa cargos e nada faz nesse sentido, certamente, usará de artimanhas para conquistar uma vez mais o nosso apoio. Sendo assim, não podemos esquecer que eleições e democracia são coisas diferentes. Uma é apenas um passo para a conquista da outra. Fiquemos espertos, pois quem não caminha nessa direção não merece nosso voto.
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