Dona
Cacilda chegou. Com seus 92 anos de idade, miúda, elegante, bem humorada,
semblante alegre e suave, ela contagia a todos com seu jeito de ser, sua força
e sua graça. Apesar de suas vistas já cansadas pelo tempo, ela acorda cedinho
todo dia. Antes das 08 da manhã, ela já está toda vestida, cabelos penteados e
discretamente maquiada.
Não
tem ninguém de seu. D. Cacilda, desde que perdeu o marido, com quem
compartilhou 70 anos de sua existência, vive sozinha. É um exemplo de pessoa,
compreensiva, otimista e determinada. E foi em grande estilo que se mudou para
a casa de repouso, "Bem viver", pois sua longevidade e ausência de
familiares não lhe permitiam outra solução.
No
dia da mudança, assim que chegou ao local de destino, ficou duas horas na sala
de visitas, esperando pacientemente o desenrolar dos acontecimentos. Em vez de
irritação, ela sorriu amavelmente, quando a atendente veio lhe dizer que
seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao
elevador, alguém fez uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das
cortinas floridas que enfeitavam a janela.
Dona
Cacilda, com entusiasmo, interrompeu a descrição:
A
atendente, interagindo com a doce e amável velhinha, se surpreende:
Com
a serenidade de sempre, disse ela:
-
Mas Dona cas....
Sem
que a moça concluísse sua fala, D. Cacilda continuou:
-
Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho
em certas partes do meu corpo que não funcionam bem, ou posso levantar da cama
agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem. Simples,
assim? Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um
certo 'treino' pelos anos afora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus
pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.
Por
fim, ela diz que é preciso tomar cuidado com a saúde: sendo boa, deve ser
mantida; sendo instável, deve ser melhorada; e, na impossibilidade de
melhorá-la, deve-se buscar ajuda. Para D. Cacilda, o importante é o amor às
coisas simples, amor às pessoas e, sobretudo, o amor a Deus.
O testemunho
de Dona Cacilda nos ensina que a felicidade é algo que se constrói a partir de
nossas escolhas. Se escolhemos reclamar das dificuldades, dos problemas, vamos
acumular tristeza, angústia e sofrimento. Todavia, se agradecemos a Deus por
aquilo que temos, que somos capazes de realizar, mesmo que precariamente em
razão de doenças ou longevidade, enxergaremos o lado belo da nossa existência,
por conseguinte, sacaremos da nossa “conta bancária” (memória) sentimento de
amor e felicidade.
Assim,
D. Cacilda foi conduzida para seus aposentos. Enquanto manobrava seu andador,
ela olhou para trás, acenou com a mão e seguiu com um sorriso nos lábios, uma
lágrima no olhar na direção do humilde quartinho que a esperava. Bonito ou
feio, confortável ou não, pouco importa. O importante é ser feliz. E foi essa a
expectativa que D. Cacilda construiu para adentrar sua nova morada. Com esse
belo testemunho, ela nos ensina como tornar nossos momentos difíceis, menos
dolorosos e suaves. Um verdadeiro exemplo, uma maravilhosa lição de vida!
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