Impeachment da presidente Dilma

Nunca se viu tanto terrorismo a respeito da crise brasileira. A cada noticiário temos a impressão de que o mundo está realmente acabando. É tanto problema jogado sobre nossas cabeças, dando-nos a impressão de que estamos no final de tudo. Mas pelo visto a caminhada ainda é longa, pois quem deveria fazer alguma coisa faz questão de usurpar o poder, contribuindo ainda mais para o despedaçamento do país.

É impressionante a hipocrisia que impera no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, uma tremenda falta de respeito com o pobre trabalhador brasileiro, de quem é cobrado diariamente o preço da crise. Crise essa já anunciada há anos e que se vai alastrando e se agravando, dia após dia, sem que as “autoridades legislativas, executivas e judiciárias” discutam medidas para combatê-la. Não vemos lei alguma nesse sentido. E quando aparece alguma é para reduzir ainda mais direitos dos trabalhadores e para garantir e até aumentar os privilégios de quem tem o controle político do país.

Para os senadores, deputados federais, estaduais, vereadores, juízes, procuradores, desembargadores, promotores não há crise. Eles já tiveram seus vencimentos aumentados, já majoraram o rombo do país com auxílio-moradia, aumento de verbas de gabinete e tantas coisas mais. Só com o Projeto de Lei, amplamente noticiado em rede nacional de televisão, dia 26 de fevereiro de 2015, que institui passagens aéreas para marido ou esposa de políticos, aprovado pelo Congresso Nacional, o país vai ter mais um desvio de mais de cem milhões por ano para os bolsos dessa gente. Assim, tendo que engordar cada vez mais as fortunas de um bando de ambiciosos, que assaltam a nação sem dó nem piedade, fica difícil crer que alguma coisa melhore.

Não podemos conceber um país com a dimensão do Brasil sem atendimento de saúde, sem educação pública de qualidade, sem segurança e tantos outros problemas. Um país de políticos sem compromissos, especialistas na arte de enganar e de não fazer nada. Um país de “autoridades”, que somente se preocupam com o bem-estar dos pares a que pertencem, negligenciando as necessidades e os direitos daqueles que trabalham, recebem seus minguados salários e padecem grandes dificuldades na luta pela sobrevivência.

O exercício da boa política está longe de acontecer. O que vemos nas instâncias legislativas não passa de espetáculos para impressionar a maioria da população menos informada. A oposição critica o governo, este se defende, tenta transferir a culpa, suscitando fatos que nunca se apuparam devidamente. E sendo apurados, tem um desfecho benéfico aos infratores, pois estes são julgados por meio de leis que eles mesmos criam e aprovam. Se as leis são por eles aprovadas, sempre haverá brechas para se livrarem das condenações que merecem.

Nesse sentido, acho uma bobagem a proposta de “impeachment” da presidente, pois isso não vai mudar os rumos da nossa política. Basta vermos que a deposição do ex-presidente Fernando Collor de Melo não solucionou problema algum. Continuaram os desvios, a corrupção, as injustiças e os privilégios. Como não podemos fazer o “impeachment” das “autoridades” corruptas, porque são bem mais do que se imagina, penso que devemos lutar por uma Reforma Política que tire delas o poder de usar o cargo como balcão de negócios e de legislarem em causa própria. Se conseguirmos caminhar nessa direção, é possível que alguma coisa mude. Do contrário, “impeachment” de presidente, significa trocar seis por meia dúzia.

Professor José Doniseti Silva.