terça-feira, 21 de junho de 2016

Nova ortografia

O senado brasileiro aprovou em novembro de 2009, o acordo ortográ­fico, re­sultado de uma articulação política entre os países de língua portu­guesa. Esse acordo alterou a escrita de 0,43% das palavras, no Brasil, e 1,42% das pala­vras, em Portugal. Para os brasileiros, as mudanças se referem ao acréscimo das consoantes “k, w e y” ao alfabeto português, à extinção do trema, à acen­tuação gráfica e ao em­prego do hífen.

Vejamos o que prevalece:

Situação
Exemplos
1
Incorporação de k, w e y ao alfa­beto, passando a ter 26 letras.
Km, watt, Byron, kg.
2
Extinção do trema, ficando em no­mes estrangeiros e derivados.
frequentemente, aguentar, tran­quili­dade, quinquênio, pinguim.
Müller, mülleriano; Hübner, hübneriano.

3
Sem acento, os ditongos abertos “ei” e “oi” em palavras pa­roxíto­nas. Nas oxítonas, ele continua.
ideia, assembleia, heroico, ono­mato­peia, paranoia, jiboia.
herói, constrói, anéis, papéis réu e dói.

4
Sem acento, agudo, o “i” e “u” tô­nicos, precedidos de ditongo de­cres­cente, nas paroxítonas. Nos ditongos crescentes, continua.
feiume, feiura, baiuca (lugar popular de festejos ou de encontro com amigos), bocaiuva (espécie de palmeiras).       Guaíba, Guaíra.

5
Sem acento, o “u” tônico depois de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” das formas verbais rizotônicas.
averigue, apazigue, ar­guem, em vez de:

“averi­gúe”, apazigúe e argúem.
6
Sem acento, a primeira vo­gal dos hiatos “oo” e “ee”.
voo, enjoo, abençoo, creem, leem, veem, deem.
7
Acento diferencial em

pôr” (verbo), por (prep.); “pôde” (verbo), “pode” (tempo presente).
É opcional em “fô­rma” / “forma”.

8
Sem hífen, as palavras for­madas por prefixos terminados em vogal mais palavra iniciada por “r” ou “s”. Nesse caso, dobra-se a con­soante.
autoescola, antiaéreo, supersônico, aeroespacial, antesse­mita, antissocial, antesala, antirrá­bica, ultrarromântico, autorregula­mentação, extrarre­gimento, autossufi­ciente.

9
Sem hífen, os compostos de base oracional e os demais, que apre­sentam elementos de ligação.     Exceções: água-de-colônia, arco-da-ve­lha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia.
Maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz, deus me livre, faz de conta; pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra.
10
Sem hífen, os prefixos “pre” e “re”, mesmo elidindo com e.
preexistente, reescrever, reedi­ção, reestabelecer.
11
Sem hífen, as palavras formadas com não e quase.
(acordo de) não agressão;
(isto é um) quase delito.
12

Com hífen, as pala­vras em que o primeiro elemento termina com “r” e o segundo inicia também com “r”.
“hiper-realista”, “hiper-requin­tado”, “hi­per- requisi­tado”, “inter-racial”, “inter-regional”, “inter-rela­ção”, “super-racio­nal’, ‘super- rea­lista”.


13
Com hífen, as palavras que se iniciam com a vogal final do pre­fixo, ou o primeiro elemento ter­mina com vogal e o segundo co­meça com “h”.
“micro-ônibus”, “micro-orga­nismo”, “anti-inflamatório”, “anti-imperi­alista”, “arqui-inimigo”, “mi­cro-ondas”, “anti-herói”, “anti-higi­ênico”, “extra-hu­mano”, “semi-herbáceo”, pré-elaborar.

14
Com hífen, os prefixos “sub” e “sob” e com os prefixos “pan” e “circum”, seguido de “m”, “n”, “h”, ou vogal
pan-americano, pan-helenismo, cir­cum-navegação, pan-hispâ­nico, sub-região, sub-reitor, sob-roda.

15
Com hífen, os prefixos “pós”, “pré”, “pró”, “recém”, “sem”, “além”, “aquém” e vice.
pós-graduado, pró-reitor, vice-rei,   pré-datado, pré-escolar, além-mar, pós-doutor, pós-cirúrgico, ex-presi­dente, recém-casado, sem-terra.

16
Com hífen, as palavras compostas que nomeiam espécies animais, ou botânicas.
Fora do sentido original, sem hífen.
bem-te-vi, peixe-espada, mico-leão-dourado, lebre-da-patagônia, erva-doce, pimenta-do-reino, pe­roba-do-campo, cravo-da-índia.                      
“bico de papagaio” (doença), “olho de boi” (selo postal)

17
Com hífen, as palavras compostas que não apresentam elementos de ligação.
guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, se­gunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro.

18
Com hífen, os nomes compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação.
reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, pingue-pongue, zi­gue-zague, esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.

19
Com hífen, as palavras com abob e ad, mais palavra começada por bd ou r.
ad-digital, ad-renal,
ob-rogar, ab-rogar.

20
Com hífen, as palavras com mal, mais palavra iniciado por vo­gal, h ou l, usa-se hífen.
Mal, doença, sem hífen.
mal-entendido, mal-estar,
mal-humorado, mal-limpo, mal-lavado.

Mal de Lázaro, mal de sete dias.

21
Com hífen, as pala­vras que ocasi­onalmente se com­binam, indi­cando itinerário.
ponte Rio-Niterói.
eixo Rio-São Paulo.

estrada Belém-Brasília.

22
Com hífen, os sufixos de origem tupi-guarani, formas adjetivas, como açu, guaçu, mirim.
capim-açu; amoré-guaçu
anajá-mirim; Guajará-mirim

Como se vê, as mudanças na grafia de 0,43% das palavras no Brasil não simplificaram nem reduziram as regras orto­gráficas da língua portuguesa. Elas servi­ram para unificar a escrita do único idioma do ocidente que apresen­tava duas grafias oficiais, a do Brasil e a de Portugal. Desse modo, cerca de 250 milhões de falantes da língua portuguesa, espalha­dos pelas terras de Bra­sil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo­çambi­que, São Tomé e Príncipe e Timor Leste passaram a empregar as mes­mas regras, o que facilita a circulação de documentos oficiais e de livros en­tre esses países, sem a ne­cessidade de um trabalho de tradução.

Ademais, com essas alterações, a língua portuguesa se fortalece, pois, como está escrito no texto oficial do acordo, "ele constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional". Portanto mesmo não trazendo uma simplificação ortográfica, como nação e comunidade linguística, o Brasil tem muito a ganhar com essas mudanças.

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