O
senado brasileiro aprovou em novembro de 2009, o acordo ortográfico, resultado
de uma articulação política entre os países de língua portuguesa. Esse acordo
alterou a escrita de 0,43% das palavras, no Brasil, e 1,42% das palavras, em
Portugal. Para os brasileiros, as mudanças se referem ao acréscimo das
consoantes “k, w e y” ao alfabeto português, à extinção do trema, à acentuação
gráfica e ao emprego do hífen.
Vejamos
o que prevalece:
Nº
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Situação
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Exemplos
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1
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Incorporação de k,
w e y ao alfabeto, passando a ter 26 letras.
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Km, watt, Byron,
kg.
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2
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Extinção do trema,
ficando em nomes estrangeiros e derivados.
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frequentemente,
aguentar, tranquilidade, quinquênio, pinguim.
Müller, mülleriano; Hübner, hübneriano. |
3
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Sem acento, os
ditongos abertos “ei” e “oi” em palavras paroxítonas. Nas oxítonas, ele
continua.
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ideia, assembleia, heroico, onomatopeia,
paranoia, jiboia.
herói, constrói, anéis, papéis réu e dói. |
4
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Sem acento, agudo, o “i” e “u” tônicos,
precedidos de ditongo decrescente, nas paroxítonas. Nos ditongos
crescentes, continua.
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feiume, feiura,
baiuca (lugar popular de festejos ou de encontro com amigos), bocaiuva
(espécie de palmeiras). Guaíba,
Guaíra.
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5
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Sem acento, o “u” tônico depois de “g” ou
“q” e seguido de “e” ou “i” das formas verbais rizotônicas.
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averigue, apazigue, arguem, em vez de:
“averigúe”, apazigúe e argúem. |
6
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Sem acento, a
primeira vogal dos hiatos “oo” e “ee”.
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voo, enjoo,
abençoo, creem, leem, veem, deem.
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7
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Acento diferencial
em
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“pôr” (verbo), por (prep.); “pôde”
(verbo), “pode” (tempo
presente).
É opcional em “fôrma” / “forma”. |
8
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Sem hífen, as
palavras formadas por prefixos terminados em vogal mais palavra iniciada por
“r” ou “s”. Nesse caso, dobra-se a consoante.
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autoescola,
antiaéreo, supersônico, aeroespacial, antessemita, antissocial,
antessala, antirrábica, ultrarromântico, autorregulamentação,
extrarregimento, autossuficiente.
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9
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Sem hífen, os compostos de base oracional e os
demais, que apresentam elementos de ligação. Exceções: água-de-colônia,
arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia.
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Maria vai com as outras, leva e
traz, diz que diz, deus me livre, faz de conta; pé de
moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, ponto e
vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra.
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10
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Sem hífen, os prefixos “pre” e
“re”, mesmo elidindo com e.
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preexistente, reescrever, reedição, reestabelecer.
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11
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Sem hífen, as palavras formadas
com não e quase.
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(acordo de) não agressão;
(isto é um) quase delito. |
12
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Com hífen, as palavras
em que o primeiro elemento termina com “r” e o segundo inicia também com “r”.
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“hiper-realista”,
“hiper-requintado”, “hiper- requisitado”, “inter-racial”,
“inter-regional”, “inter-relação”, “super-racional’, ‘super- realista”.
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13
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Com hífen, as palavras que se iniciam com a
vogal final do prefixo, ou o primeiro elemento termina com vogal e o
segundo começa com “h”.
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“micro-ônibus”, “micro-organismo”, “anti-inflamatório”,
“anti-imperialista”, “arqui-inimigo”, “micro-ondas”, “anti-herói”,
“anti-higiênico”, “extra-humano”, “semi-herbáceo”, pré-elaborar.
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14
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Com hífen, os prefixos “sub” e “sob” e com os prefixos
“pan” e “circum”, seguido de “m”, “n”, “h”, ou vogal
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pan-americano,
pan-helenismo, circum-navegação, pan-hispânico, sub-região, sub-reitor, sob-roda.
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15
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Com hífen, os prefixos “pós”, “pré”, “pró”,
“recém”, “sem”, “além”, “aquém” e vice.
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pós-graduado,
pró-reitor, vice-rei, pré-datado,
pré-escolar, além-mar, pós-doutor, pós-cirúrgico, ex-presidente, recém-casado,
sem-terra.
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16
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Com
hífen, as palavras compostas que nomeiam espécies animais, ou botânicas.
Fora do
sentido original, sem hífen.
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bem-te-vi, peixe-espada, mico-leão-dourado,
lebre-da-patagônia, erva-doce, pimenta-do-reino, peroba-do-campo,
cravo-da-índia.
“bico
de papagaio” (doença), “olho de boi” (selo postal)
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17
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Com hífen, as palavras compostas que não apresentam
elementos de ligação.
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guarda-chuva, arco-íris,
boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas,
porta-bandeira, pão-duro.
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18
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Com hífen, os nomes compostos que têm palavras
iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação.
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reco-reco, blá-blá-blá,
zum-zum, tico-tico, tique-taque, pingue-pongue, zigue-zague,
esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.
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19
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Com hífen, as palavras com ab,
ob e ad, mais palavra começada por b, d ou r.
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ad-digital, ad-renal,
ob-rogar, ab-rogar. |
20
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Com hífen, as palavras com mal, mais
palavra iniciado por vogal, h ou l, usa-se hífen.
Mal, doença, sem hífen. |
mal-entendido, mal-estar,
mal-humorado, mal-limpo, mal-lavado. Mal de Lázaro, mal de sete dias. |
21
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Com hífen, as palavras que ocasionalmente
se combinam, indicando itinerário.
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ponte Rio-Niterói.
eixo Rio-São Paulo. estrada Belém-Brasília. |
22
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Com hífen, os sufixos de origem
tupi-guarani, formas adjetivas, como açu, guaçu, mirim.
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capim-açu; amoré-guaçu
anajá-mirim; Guajará-mirim |
Como se vê, as mudanças na grafia de 0,43% das palavras no Brasil não simplificaram nem reduziram as regras ortográficas da língua portuguesa. Elas serviram para unificar a escrita do único idioma do ocidente que apresentava duas grafias oficiais, a do Brasil e a de Portugal. Desse modo, cerca de 250 milhões de falantes da língua portuguesa, espalhados pelas terras de Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste passaram a empregar as mesmas regras, o que facilita a circulação de documentos oficiais e de livros entre esses países, sem a necessidade de um trabalho de tradução.
Ademais, com essas alterações, a língua portuguesa se fortalece, pois, como está escrito no texto oficial do acordo, "ele constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional". Portanto mesmo não trazendo uma simplificação ortográfica, como nação e comunidade linguística, o Brasil tem muito a ganhar com essas mudanças.
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