Acordei hoje, 27/09/2011, pensando em escrever um texto que transmitisse algo ameno para os queridos leitores dessa página opinativa do Jornal Contagem. Pensei numa prosa poética, num texto de humor, enfim em uma mensagem que tocasse fundo à sensibilidade das pessoas, ou ao espírito lúdico, brincalhão, tão característico do povo brasileiro. Afinal, nas últimas semanas, só tratei de temas que, apesar da seriedade, não se incluem na lista de prioridades de muitos de nossos governantes.
Greve na educação mineira, precariedade do ensino, falta de valorização dos professores, o péssimo desempenho dos alunos das escolas públicas no Enem, dentre outras coisas. Enquanto pensava em uma temática agradável para desenvolver, eis que numa sala de aula um dos meus alunos se manifestou, demonstrando sua descrença na educação pública. Ele me disse que, se tivesse condições, pagaria uma escola para seu filho, pois sabe que no futuro ele ficará em desvantagem, em relação aos alunos das escolas particulares.
“Sabe, professor, nem corrigir os trabalhos do meu filho, a escola corrige, quando muito, um visto, um ok e pronto”. Pensei um pouco, respirei fundo e, com certa tristeza, procurei confortá-lo. Não foi fácil para mim, que conheço bem a realidade dos educadores da escola pública. “Coitado de nossos filhos!“ – disse-me outro aluno. “Afinal, são mais de 100 dias em greve, e nada. Nossas autoridades não querem enxergar essa triste realidade.”
No calor da discussão, outros alunos se manifestaram cada qual demonstrando seu desalento, com a situação da greve em Minas. Aí, comecei a pensar: as famílias têm razão, mas o que fazer? Onde está a justiça, os legisladores, as autoridades do executivo, do Ministério e Secretarias de Educação, que só aparecem para criticar os educadores? Como pode um país em crescimento, não desenvolver nenhum esforço para melhorar algo, por menor que seja, em favor dos nossos educadores?
É lamentável, mas a tendência é piorar. Ninguém mais respeita os educadores. Lecionar se tornou uma atividade de alto risco. Professor não pode chamar atenção de alunos, não pode exigir seriedade. Muitas famílias, de tanto verem as autoridades na mídia desqualificando os mestres, começam a enxergá-los como irresponsáveis, descompromissados e baderneiros. No caso específico de Minas Gerais, o governo ainda acha que pagar cerca de R$700,00 por mês de piso salarial é muito e que o professor reclama sem razão.
Essa é a realidade, meus amigos! Mas as conseqüências estão aí: as boas universidades do país, vão ficando sem demanda para os cursos de licenciatura, professores sendo desrespeitados por alunos em sala, diretora sendo espancada, professores baleados nas escolas e tantas outras atrocidades que jamais imaginaríamos que pudessem acontecer. O mestre hoje virou coitado, um ser impotente que não sabe como agir diante de tantas dificuldades.
No final da discussão, eu disse aos meus alunos: hoje ainda temos professores nas escolas, mas num futuro bem próximo certamente não haverá mais. Os verdadeiros mestres se cansaram diante de tanto descaso e desprezo. Ninguém agüenta trabalhar 9 horas por dia em sala de aula, mais umas 5 horas com atividades extraclasse, recebendo em torno de R$1500,00 reais por mês, gastando R$800,00 com aluguel ou prestação, R$250,00 com combustível, R$450,00 com água, luz e telefone, sem nada sobrar para alimentação e lazer.
Diante da inquietude da turma, não tive como falar de coisa amena, pois meus alunos me pediram que escrevesse meu artigo sobre essa conversa de hoje com eles. São alunos trabalhadores, muitos deles pais e mães que sofrem com o descaso de nossas autoridades em relação à educação de seus filhos. Achei que deveria aproveitar esse momento para estas sinceras palavras em respeito a eles. A todos, o meu carinhoso abraço!
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