terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Novo acordo ortográfico

O acordo ortográfico aprovado pelo senado brasileiro em novembro de 2009, resultado de uma articulação política entre os países de língua portuguesa, impõe uma alteração na escrita de 0,43% das palavras, no Brasil, e de 1,42% das palavras em Portugal. Para os brasileiros, as mudanças se referem ao acréscimo das consoantes “k, w e y” ao alfabeto português, à extinção do trema, à acentuação gráfica e ao emprego do hífen.
Em vez de 23 letras, o alfabeto português passa a ter 26, com a incorporação do “k, w e y” que serão usados em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados, o que já ocorre em nosso idioma, como em km, watt, Byron, byroniano, dentre outros. A novidade é que estas consoantes agora fazem parte do alfabeto da língua portuguesa, o que não se verificava antes.
O trema fica extinto oficialmente da nossa ortografia, já que na prática poucos usuários da nossa língua se davam ao trabalho de empregá-lo. Ele somente será utilizado em nomes próprios estrangeiros como Müller, Hübner e seus derivados hübneriano e mülleriano. A partir de agora, todo purista vai “aguentar” escrever frequentemente, tranquilidade, quinquênio, pinguim e linguiça, sem os famosos dois pontinhos sobre a letra “u”, um alívio para os alunos de redação que dificilmente se lembravam de registrá-los na escrita.
Uma mudança que requer muita atenção por parte do usuário se refere à acentuação dos ditongos abertos “ei” e “oi”. A nova regra estabelece que em palavras paroxítonas não se usa o acento, mas nas oxítonas e nas monossílabas o acento permanece. Desse modo, não se acentua ideia, assembleia, heroico, mas herói, constrói, anéis, papéis e dói são acentuadas.
O acento agudo deixa de ser usado também nas palavras paroxítonas que apresentam o “i” ou “u” tônicos precedidos de ditongo. Assim, palavras como feiume, feiura, baiuca, Guaiba, tauismo deixam de ser acentuadas. Fica extinto oficialmente o acento agudo no “u” tônico antecedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” das formas verbais rizotônicas “averigúe”, apazigúe e argúem, que passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem, sem o acento.
Outra mudança significativa ocorre nas palavras com a duplicidade das vogais “o” e “e”. Estes hiatos “oo” e “ee” que antes tinham o acento circunflexo na primeira vogal, com o novo acordo ortográfico, passam a ser grafados sem essa marca fonética. Voo, enjoo, creem, leem, veem, deem é a forma correta da grafia destas palavras.
Uma alteração importante se verifica em relação ao acento diferencial em palavras que apresentam a mesma grafia (palavras homógrafas). Agora não há mais o acento em “para”, presente do indicativo do verbo parar, para diferenciar da preposição “para”. Não se acentua também “pela”, “pelo”, presente do indicativo do verbo pelar e substantivo para diferenciar de pelo ou pela, preposição mais artigo definido “o” ou “a”. Sem acento fica ainda “pera” (substantivo – fruta/pedra) antes usado para diferenciar da preposição arcaica per + a. A identificação destas palavras dar-se-á pelo contexto linguístico em que ocorrem e não pela marca diferencial do acento. Este permanece apenas em “pôr” (verbo) para diferenciar da preposição “por”, sendo de uso facultativo em “pôde” (pretérito perfeito do indicativo) para diferenciar de “pode” (presente do indicativo) e em “fôrma” para diferenciar do substantivo “forma”.
Em relação ao hífen, ele deixa de ser usado em palavras formadas por prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal mais palavra iniciadas por “r” ou “s”. Em antissemita, antissocial, antessala, antirrábica, ultrarromântico, autorregulamentação, extrarregimento, o hífen desaparece, surgindo em seu lugar a duplicidade da consoante “r” ou “s”. Todavia, curiosamente, ele permanece na grafia de palavras como “hiper-realista”, “hiper-requintado”, “hiper-requisitado”, “inter-racial”, “inter-regional”, “inter-relação”, “super-racional’, ‘super-realista”, “super-resistente”, já que os prefixos terminam com “r” e a palavra seguinte começa também com “r”. Por fim, o hífen se faz presente em palavras que têm os prefixos (ou falsos prefixos) e o elemento seguinte terminados e iniciados com a mesma vogal, ou com “h”, respectivamente. São os casos de “micro-ônibus”, “micro-organismo”, “anti-inflamatório”, “anti-imperialista”, “arqui-inimigo”, “micro-ondas”, “anti-herói”, “anti-higiênico”, “extra-humano”, “semi-herbácio”.
O novo acordo ortográfico não simplifica ou reduz as regras para a grafia das palavras da língua portuguesa; todavia unifica a escrita do único idioma do ocidente que apresentava duas grafias oficiais, a do Brasil e a de Portugal. Desse modo cerca de 230 milhões de falantes da língua portuguesa espalhados pelas terras de Brasil, Portugal, Angola, cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tome e Príncipe e Timor Leste passam a empregar as mesmas regras ortográficas, o que facilitará a circulação de documentos oficiais e de livros entre esses países, sem ser preciso realizar um trabalho de tradução.
Ademais, com essas alterações, a língua portuguesa se fortalece, pois como está escrito no texto oficial do acordo, “ele constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional”. Portanto, mesmo o acordo não trazendo uma simplificação ortográfica, temos muito a ganhar como nação e comunidade linguística.

Nenhum comentário:

Postar um comentário