No
contexto do debate sobre a reforma política, é importante
refletirmos sobre a necessidade de revermos as injustiças envolvendo
as questões salariais. Não quero aqui questionar o salário de um
político, seja este parlamentar, presidente da república,
governador de estado, prefeito, ou um magistrado. Se atentarmos para
a realidade dos executivos das grandes empresas, vamos perceber que
eles têm vencimentos nominais superiores aos de nossas autoridades
das esferas municipal, estadual e federal. Todavia o que deixa o povo
chateado são os privilégios, o tratamento diferenciado que se dá
às autoridades ocupantes dos altos cargos da vida pública
brasileira.
A
maioria dos trabalhadores, no Brasil, recebe baixos salários,
sobrevivendo com grandes dificuldades, tendo que arcar com todas as
despesas, sem nenhuma outra ajuda. Assim, os gastos com alimentação,
aluguel, tarifas de água, luz, telefone, remédios, planos de saúde,
mensalidades escolares, prestação da casa própria, impostos,
combustíveis e outras mais são custeados apenas com a remuneração
mensal.
O
que não podemos entender é o fato de os trabalhadores em geral
sobreviverem apenas com o seu salário, enquanto nossas autoridades
vivem cercadas de privilégios, gozando de inúmeros benefícios.
Tomando como exemplo, os deputados e senadores, além do salário,
eles recebem ajuda de custo, auxílio moradia, cotão 2,
ressarcimento ilimitado de despesas médicas e verba de gabinete para
25 funcionários. É como se tivéssemos 594 empresas (513 deputados
e 81 senadores) sendo mantidas com o dinheiro público.
Se
indagarmos ao cidadão sobre os gastos que o país tem com as duas
instâncias de poder no Congresso Nacional, gastando em média
R$135,000,00 por mês com cada parlamentar, R$1,8 milhão por ano,
isso multiplicado por 81 senadores, mais 513 deputados, daria cerca
de R$1,1 bilhão por ano. Realmente um absurdo, um desperdício de
dinheiro público para garantir privilégios a congressistas, cuja
maioria pouco importa com as condições em que vivem as camadas
populares e sofridas do povo brasileiro.
Uma
proposta salarial razoável deverá garantir um tratamento
igualitário a todos os trabalhadores brasileiros. Penso que nenhum
assalariado, seja no exercício de mandato político, da
magistratura, ou do poder executivo poderia receber mais de 30 vezes
o valor do menor salário pago nacionalmente. E o reajuste salarial,
independente da categoria profissional e do valor da remuneração,
deveria ser com base na evolução do salário mínimo, o que
evitaria o sentimento de injustiça. De igual modo, os direitos
deveriam ser os mesmos para todos, sem privilégios, sem diferenças
e sem injustiças.
Essa
é uma mudança ousada e importante. Ela traz consigo o princípio da
igualdade de direitos tão reclamados atualmente, um pilar
indispensável à construção de uma sociedade verdadeiramente
justa. Agindo assim, concedendo às nossas autoridades, seja do
executivo, do legislativo, ou do judiciário, os mesmos direitos dos
demais trabalhadores do Brasil, sem privilégios e com o teto
salarial, no máximo, 30 vezes superior à remuneração básica, que
hoje é de R$678,00 reais por mês, resgataríamos a credibilidade na
política, nos políticos e na justiça. Desse modo, as pessoas
interessadas em trabalhar pelo bem do país concorreriam a essas
vagas com maiores chances de serem bem sucedidas.
Por
fim, enquanto esses cargos forem cercados de privilégios, o
exercício das atividades inerentes a eles continuará sendo um
balcão de negócios. Por isso, o que tem que vir à frente do debate
sobre a reforma política é a disposição de nossas autoridades em
abrir mão de seus privilégios
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