Muitas coisas acontecem na vida da
gente, deixando-nos uma imensa saudade. Uma destas coisas de que me lembro
agora era o hábito que muitas pessoas tinham de escrever suas amáveis cartinhas
a amigos e familiares.
Essa troca
de informações por meio de cartas acontecia, com frequência, antes da
proliferação de emissoras de rádio, de canais de televisão, linhas telefônicas,
computadores e outros equipamentos da atualidade.
Em algumas localidades,
havia aquelas pessoas que ajudavam a quem tinha dificuldades nas redações, ou
não sabia escrever por falta de escolaridade. Era uma atividade gostosa, pois
matinha acesa a expectativa da chegada de um mensageiro com uma
correspondência, trazendo notícias de um parente ou de um amigo distante.
Quanto mais carta a pessoa enviava, mais chances ela tinha de receber o
“feedback” daqueles com os quais correspondia.
Hoje, não é comum as
pessoas, movidas pelo sentimento de saudade, amor ou amizade, dispensarem parte
do seu tempo, para a produção de carinhosas mensagens a serem endereçadas a um
amigo, ou a um ente querido. Uma pena, pois perdemos a oportunidade de
expressarmos e de partilharmos com o outro o que pensamos e sentimos.
A linguagem das correspondências era,
muitas vezes, simples, porém carregada de significados, tanto para quem escrevia
quanto para quem as recebia. Independente do nível de elaboração, ela refletia
os apelos sentimentais, presentes nos relacionamentos sociais, culturais e
humanos, pois brotava da sinceridade e do íntimo de cada emissor. Era uma
viagem gostosa que este fazia para tocar o imaginário do receptor, fazendo-o
viajar também, no momento mágico da leitura.
Na redação das correspondências
familiares, valia a criatividade. As ilustrações, fotos, desenhos, ou outras imagens comunicativas, eram recursos utilizados por muitos para despertar a
atenção do destinatário. Assim, associando a força da mensagem verbal (escrita) com a não verbal (imagens, fotos, desenhos e outros), a viagem
pela leitura se tornava ainda mais gostosa.
Penso que o desenvolvimento
tecnológico e o poder da era digital contribuem sobremaneira para o fim das
manifestações carinhosas advindas das amáveis cartinhas. Penso ainda que os
professores, nas escolas, poderiam ajudar no resgate das correspondências familiares, conscientizando os alunos sobre a importância de se eles dedicarem um pouco do tempo para pensar no outro, escrevendo-lhe algumas
mensagens. Esse exercício, além de trabalhar o sentimento humano, a amizade, o
respeito e o espírito solidário, contribui para o desenvolvimento linguístico
de cada um, já que resulta na expressão escrita.
Desse modo, o aluno aprenderá a dar
importância ao seu semelhante e a pensar estratégias para despertar-lhe a
atenção. Juntamente com as estratégias, vem o esforço para o planejamento do
texto, a ordenação das idéias de forma coerente, a escolha do vocabulário, a
correção ortográfica e o próprio exercício da escrita. Dominando bem esses
aspectos, o aluno saberá aplicá-los com eficiência em prol da boa qualidade de construção
de outros gêneros textuais. Assim, ele crescerá sempre, relacionando-se melhor
com o outro e modelando sua maneira de pensar, de agir e de sentir o mundo por meio da
linguagem. Sem dúvida, um aprendizado que não tem preço.
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