terça-feira, 10 de setembro de 2013

Donadon e o Congresso, uma vergonha

Os deputados federais absolveram o colega Natan Donadon, numa demonstração clara da pouca vergonha e da falta de seriedade no exercício da função pública. Essa decisão foi importante, pois revelou o caráter dos políticos que agem com casuísmo para não perderem o apoio dos colegas, na cobertura de seus desmandos e desvios.
Essa decisão da Câmara dos Deputados muito nos entristece, pois revela a verdadeira face do poder legislativo. A absolvição de um deputado, condenado há 13 anos por crime de peculato e formação de quadrilha, que desviou R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia, quando era diretor financeiro da instituição, é inadmissível. Isso mostra que, ao livrarem o colega da cassação, os parlamentares que assim o fizeram, consciente e estrategicamente, procuraram resguardar os seus mandatos.
O resultado dessa votação é bem significativo. Partindo do princípio de que pelo menos 50% + 1 dos nossos políticos são sérios e honestos, a cassação seria tranquila. Todavia, para começar, 108 parlamentares não compareceram à sessão, 41 se abstiveram de votar, 133 votaram pela manutenção do mandato e apenas 233 foram a favor da cassação de Donadon. Ou seja: 55% dos parlamentares agiram em favor da corrupção e dos corruptos.
Alguns deputados apontaram como causa desse resultado o voto secreto, o que não é verdade. Se os parlamentares fossem íntegros, independente de o voto ser secreto ou não, eles votariam em favor da honestidade, da justiça e do país. Quem absolveu Donadon usou de artimanha, pensou primeiro em si, evitando criar precedentes para o próprio julgamento no futuro.
É comum o sentimento de impotência do cidadão de bem diante de fatos como esse. A população é enganada, desprotegida e desrespeitada por nossos políticos. Eles fazem de conta que são bonzinhos, agem de forma inescrupulosa, passando uma imagem que nada tem que ver com o que são realmente. Por isso o resultado da votação na Câmara dos Deputados foi importante, uma vez que revelou a essência dos nossos parlamentares.
Após essa vergonha nacional, os próprios deputados, numa jogada de oportunismo, tentaram amenizar a situação, aprovando o fim do voto secreto, como se isso fosse mudar alguma coisa. O país precisa de cidadãos e políticos sérios, honestos, que honrem seus compromissos, sem engodos, fundados no respeito ao ser humano, à sociedade e ao país.
Não foi à toa que o senador Renan Calheiros, logo após a aprovação do fim do voto secreto pela Câmara dos Deputados, reagiu contrariamente à decisão, alegando que o Senado não deverá votar essa matéria, sem alterações. No fundo, o Senador e seus colegas querem manter suas aparências, ofuscando a essência desonesta e a prática corrupta que carregam ao longo da história.
A impressão que fica de tudo isso é que o Congresso Nacional está cheio de Donadons. Quem ainda acreditava na seriedade das nossas instâncias legislativas, a julgar pelo resultado favorável a Donadon e pelas declarações do presidente do Senado, Renan Calheiros, certamente, está desconfiado. O exercício político dos parlamentares virou um balcão de negócios, um “toma-lá-dá-cá”, num processo em que todos os aliados ganham e muitos se livram de condenações e cassações. Esperamos que esse sentimento de indignação se reflita no resultado das eleições de 2014, para que os germes do mal da política brasileira sejam arrancados do Congresso Nacional.

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